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Os Cantos de Maldoror

20.00

“(…) o homem, com o seu rosto de sapo, deixou de se reconhecer a si próprio, e cede frequentemente a acessos de fúria que o tornam semelhante aos animais dos bosques. Não é culpa dele. Sempre acreditou, com as pálpebras curvando-se sobre as resedas da modéstia, que na sua composição apenas entravam o bem e uma quantidade mínima de mal. Ensinei-lhe subitamente, revelando em pleno dia o seu coração e as suas tramas, que, pelo contrário, ele é apenas composto de mal, e de uma quantidade mínima de bem que os legisladores têm dificuldade em impedir que se evapore. Desejaria, eu que nada lhe ensino de novo, que ele não sentisse uma vergonha eterna perante as minhas amargas verdades; mas a realização desse desejo não estaria de acordo com as leis da natureza. Com efeito, arranco a máscara ao seu rosto traiçoeiro e cheio de lama, e faço cair uma a uma, como bolas de marfim numa bandeja de prata, as mentiras sublimes com que se engana a si próprio: é pois compreensível que ele não ordene ao sossego que lhe coloque as mãos sobre o rosto, nem mesmo quando a razão dispersa as trevas do orgulho.”

de Lautréamont [Isidore Ducasse]
tradução de Manuel de Freitas
desenhos de Ricardo Castro
texto de Silvina Rodrigues Lopes
666 exemplares numerados
momo 2015
capa impressa em tipografia no Homem do Saco

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